“Orpheu”, revita, Fernando Pessoa
Data: 1915
Créditos: Fernando Pessoa
Formato: Revista
Clientes: Intelectuais, escritores, artistas, estudantes e leitores
Localização: Portugal
Links: https://modernismo.pt/index.php/orpheu
https://ensina.rtp.pt/artigo/orpheu-e-o-inicio-do-modernismo-em-portugal/
https://expresso.pt/cultura/furacao-orpheu-fernando-pessoa-e-a-revista-que-abanou-portugal=f916373
A Revista “Orpheu”, publicada em Lisboa no ano de 1915, representa um marco incontornável na história da literatura e arte portuguesas. Esta publicação periódica de curta duração, com apenas dois números lançados, destacou-se como veículo de rutura estética e literária face ao tradicionalismo dominante da época. O presente relatório visa analisar, de forma sistemática, os principais elementos constitutivos da revista, incluindo a sua estrutura gráfica, funções sociais e culturais, processo de produção e impacto na sociedade portuguesa.
A Revista “Orpheu” foi uma publicação literária e artística de vanguarda, concebida como plataforma para a divulgação de novas correntes estéticas, especialmente o futurismo e o modernismo. Com um perfil editorial experimental, a revista rompeu com os padrões convencionais de sua antecessora, a Revista “Serões” (1901–1911), assumindo um papel provocador e inovador no panorama cultural português.
Publicada em dois números, o primeiro em março e o segundo em julho de 1915, a “Orpheu” foi distribuída em livrarias e bancas de Lisboa. Atualmente, os exemplares sobreviventes podem ser encontrados em bibliotecas, arquivos e coleções particulares, devido à sua raridade e valor histórico.
A constituição física da Revista “Orpheu” era relativamente simples, com uma capa sóbria, índice, textos literários, ensaios, poemas e raras ilustrações. O design era minimalista para a época, com predominância de linhas retas, formas geométricas discretas e composição visual equilibrada. A diagramação era simétrica e organizada, centrando-se nos elementos principais, nomeadamente o título e os autores, e empregando uma tipografia funcional sem grandes ornamentos.
A paleta cromática era restrita: capas em tons neutros, como bege e cinzento, e interior impresso em preto e branco. O suporte físico incluía papel de gramagem média, com textura fosca e ligeiramente áspera, típico das publicações literárias da época.
A função principal da “Orpheu” era divulgar novas tendências estéticas e servir como espaço de experimentação literária e artística. Mais do que uma revista de leitura recreativa, era um verdadeiro manifesto cultural. A sua função social consistia em desafiar o conservadorismo literário e promover uma renovação profunda da arte portuguesa.
O público-alvo era composto por intelectuais, escritores, estudantes e artistas, predominantemente urbanos, de classe média a alta, escolarizados e, na sua maioria, do sexo masculino. Embora pensada para um público restrito e progressista, a revista também acabou por atingir leitores não intencionais, nomeadamente críticos e leitores conservadores, que frequentemente reagiram com escândalo ou reprovação.
A Revista “Orpheu” foi idealizada por figuras centrais do modernismo português, como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, contando ainda com a colaboração de outros artistas e escritores do grupo. A parte gráfica, embora secundária no projeto editorial, teve contribuições significativas de Almada Negreiros.
A produção foi realizada em Lisboa, com a impressão do primeiro número a cargo da Tipografia do Anuário Comercial. A revista utilizou o método de impressão tipográfica em chumbo e uma encadernação simples. Não havia uma equipa de design nos moldes atuais, e os recursos gráficos estavam limitados às possibilidades técnicas da época.
O financiamento foi em parte assegurado por familiares dos autores, como o pai de Sá-Carneiro. A tiragem foi limitada, entre 200 e 300 exemplares por número, e enfrentou restrições tanto financeiras quanto sociais, que impediram a continuidade da publicação.
A revista “Athena” (1924–1925), embora posterior, é frequentemente comparada à “Orpheu”. Ambas promoviam a literatura e a arte modernas, com métodos de produção semelhantes. No entanto, “Athena” apresentava um design mais elaborado, maior aceitação pública e conteúdo menos radical, conseguindo assim maior alcance, inclusive junto ao meio académico tradicional. Em contraste, “Orpheu” foi mais ousada e provocadora, assumindo uma postura estética de rutura.
A comparação com a Revista “Serões” permite perceber a transformação no panorama editorial português. Enquanto “Serões” apresentava uma abordagem tradicional, ilustrativa e voltada para o entretenimento da elite, “Orpheu” propunha uma mudança radical, dando voz a jovens intelectuais e à emergência do modernismo.
Apesar da continuidade tecnológica entre essas revistas, ambas impressas em tipografia tradicional, a “Orpheu” inovou esteticamente, enfrentando resistências sociais e políticas que condicionaram sua receção inicial. Com o tempo, no entanto, foi reconhecida como um marco fundador da modernidade em Portugal.
A Revista “Orpheu” constituiu uma das mais significativas expressões do modernismo em Portugal, desafiando os paradigmas literários, estéticos e sociais do seu tempo. Apesar de sua vida breve, o seu impacto foi duradouro, influenciando gerações de artistas e escritores e afirmando-se como símbolo de renovação cultural. Sua análise permite compreender não apenas os caminhos da literatura portuguesa, mas também as tensões entre inovação e tradição num período crucial da história cultural do país.
Filipa Marques a88949
Solange Meijnderts a88877
